A NINFA

por H. Thiesen

Dizem que a ocupação das ninfas, era cuidar e banhar-se nos rios, dando a eles o cheiro do seu corpo, o cheiro de natureza e, à noite, deitar-se sob a relva e banhar-se no sereno da noite, para que de seu corpo desprendesse o perfume de grama molhada. As ninfas também eram companheiras de Ártemis  a deusa da caça e se embrenhavam na florestas, com ela, durante as suas caçadas.
Havia uma ninfa chamada Salmácida, que cuidava de um rio. Certo dia, depois de banhar-se a noite toda de orvalho e correr para o rio a fim de dar a ele seu cheiro, foi interrompida na sua corrida por suas companheiras, outras ninfas. Diziam elas que Ártemis chamava, para mais uma caçada.
Salmácida, a ninfa mais intransigente da floresta, decidiu não atender o chamado e mandou dizer a Ártemis que não iria e que a matança lhe deixava enojada.
Deu as costas para as outras ninfas e continuo seu caminho em direção ao rio, onde de cima de uma pedra, atirou-se ao mergulho, depois deixou que a correnteza a levasse, deliciando com o carinho da água em seu corpo, até encontrar uma pequena praia.
Dá água ela saiu, livrou-se da pequena túnica, deitou sobre a relva e adormeceu, enquanto os insetos da mata, acariciavam seu corpo. Borboletas, abelhas e libélulas a sobrevoavam, pousavam em seu rosto, em seus seios desnudos e no seu ventre molhado, matavam a sede com as gotas de água sobre a sua pele.
Salmácida acordou assustada, um barulho de água a despertou, ergueu a cabeça e viu alguém banhando-se no rio. Curiosa, ergueu-se mais um pouco, debruçando-se sobre os cotovelos. Com a cabeça esticada, olhando para a outra margem, viu sair da água um belo rapaz, tão lindo, que por ele se apaixonou.
Não querendo assustá-lo, rastejou delicada, com os seios, o vente e a coxas, rentes a relva, até chegar à beira do rio.
Surpresa com a beleza do rapaz, permaneceu algum tempo admirando e depois resolveu ir ao seu encontro.
Rastejando como uma serpente silenciosa, entrou na água e pôs-se a nado, com a destreza de ninfa. Quando ela saiu da água assustou o rapaz, sem dar tempo à ela embrenhou-se na mata. Salmácida saiu da água depressa e correu para dentro da mata também, gritando:
- Espere, não tenha medo!
Sob o pé de um estrondoso carvalho, ela encurralou o rapaz, que se escondia entre os brotos da vegetação rasteira.
- Quem é tu? - perguntou a ninfa.
- Sou Hermafrodito! - respondeu o rapaz.
Oh - pensou a ninfa - por isso é tão belo, o filho de Hermes e Afrodite!
- És muito novo... pareces! - disse a ninfa.
- Nem tanto... és bem mais! - retrucou o filho dos deuses.
- És inexperiente, então!
Aquilo tudo era novo para ela, acostumada com o assédio das criaturas das matas, faunos, sátiros e suas mãos asquerosas, mas nunca alguém havia lhe mostrado medo.
- Não temas, sou Salmácida a ninfa do rio!
E aproximando-se do corpo nu do rapaz, tocou-lhe o peito e ele segurou-lhe a mão.
- Não temas, já disse!
- O que queres de mim?
- Não vou causar-lhe mal algum, afinal quem é a mulher por aqui? Tu ou eu?
- É tu com certeza! - respondeu o rapaz, tentando disfarçar o seu medo.
Fazendo trejeitos de homem mais velho, puxou-a pela mão de encontro ao seu corpo e a agarrou pela cintura. Ela ofereceu-lhe a boca e se beijaram, ainda suados e ofegantes, devido a corrida desbaratada, na qual se embrenharam pela mata. O belo rapaz abraçou-a com força e levantou-a de encontro ao seu corpo, deixando-a sem chão e os pés completamente no ar.
Hermafrodito subiu suas mãos até os seios da bela ninfa, segurou-os e brincou com os mamilos duros entre os seus dedos. A bela ninfa acostumada com o sexo violento e forçado dos seus antigos possuidores asquerosos, entregou-se finalmente a um amor pleno e incendiário.
O jovem filho dos deuses e a bela ninfa se entregaram ao deleite da conjunção carnal e amaram-se de uma forma a qual ela nunca havia provado. Seus corpos unidos chegaram a um orgasmo inimaginável e durante este sublime momento ela, olhando para o céu, gritou com todas as suas forças:
- Oh Deuses... Permitam-me que nunca mais me separe dele!
No mesmo instante, seus lábios fundiram-se em um beijo eterno, peito e seios passaram a portar um único coração, seus sexos uniram-se em um só, capaz de amar homem e mulher.
Tornaram-se os amentes apenas um ser, segundo os gregos antigos, um ser perfeito, chamado Hermafrodite.

(Baseado na lenda de Salmácida e Hermafrodite)

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